Filomena Saboia

 

Quem ficaria a saber dos segredos? Dos sítios que vamos e que achamos que poucos podem saber? Quem perceberia das minhas idas ao casino, ao bar, às festas e espectáculos, por diversão, por companhia.

O que fica é um jogo, de roleta, que acaba num pleno em apostas no encarnado. Ficaria tudo… Ficaria a loiça por tirar da máquina. Quem a arrumaria? Quem iria compreender as dezenas de brincos e pulseiras? As fotografias em caixas… tantas antes de as ter no telefone. Quem apagaria o Facebook? E as mensagens… tantas mensagens aqui de acesso fácil e leitura fora do contexto.

Onde ficam as nossas coisas quando partimos? Ficam os pratos e os copos. Ficaria o pijama velho no meio dos novos e as meias. Dezenas de meias pretas que servem para os ténis, outras para as botas, outras para andar por casa. As de andar por casa têm cor. Ninguém saberia porquê. E os frascos de perfume quase vazios, mas suficientemente cheios para não saírem da prateleira? E a gaveta das “coisas”…. onde ficavam “as coisas” que podiam servir um dia e já não servirão. Ficava a roupa de cor por lavar que diziam ir chover… ficava a roupa do ginásio pouco usada.

Quem percebia os medicamentos fora do prazo e cremes para tudo? Que história inventarão do livro com dedicatória em código… tantas histórias que se guardam sem sentido e que sentido lhes dará quem as encontrar? Onde fica o que não cabe no céu? Onde ficam os brindes…canetas, pacotes de açúcar vazios, chávenas sem pires e isqueiros que não servem para acender cigarros.

Se eu morresse hoje o que ficaria além das memórias que deixo? E até essas… até essas se perderiam um dia e ficaria uma moldura. No fim somos um retrato numa moldura. No fim somos um lugar vazio na mesa. No fim somos nada e carregamos aquilo que fomos, que vimos, que comemos, que rimos… levamos bagagem vazia de coisas e carregada de memórias. Leva-mo-nos, e nada é tão nosso como nós. Levamos todos os medos daquilo que não fizemos, que não dissemos. Se eu morresse hoje, deixaria para amanhã. Morria amanhã para poder ser eu só mais uma vez neste jogo da vida!

Filomena Saboia

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