Filomena Saboia

Ele, impecavelmente vestido, (reparei-lhe na camisa, passada e bem vincada) e ela, com roupa a estrear, sapatos a magoar os pés e sem maquilhagem.

Imagino-os, pela manhã, enquanto ela lhe prepara as torradas e ele toma o seu banho. Imagino-o a reclamar que estão queimadas e que ela vá fazer outras e que peça desculpa por existir. Este casal é real (talvez).

Não é triste quem quer, é triste quem permite. Estar acompanhado é muito mais do que ter um companheiro. Se assim não for, se for feliz apenas porque o outro respira, não vale a pena brincar ao faz de conta das vidas perfeitas.

Foram ao casino naquele dia. Foi lá que os vi. Não falaram. Nunca os vi falar. Talvez por ser dia de reis, pensei que a rainha devia ser ela.

Um rei!

Saiu-lhe um rei num jogo de cartas que ela não soube jogar. Sem a rainha, o rei nunca seria rei. A máquina roda e eles não falam. Alguém ganha!

Ali, mesmo ao lado. Ela não.

Um dia ela voltará, para jogar certeiro. Um dia ela vai descobrir que o jogo a pode fazer feliz, mas, primeiro tem de aprender como se joga. Um dia ela vai perceber que a vida só faz sentido quando se descobre o que não se quer e isso passa por saber muito bem o que se precisa!

É aí que entra o amor, mas o próprio… É aí que a máquina lhe vai dar um jackpot!

Texto de Filomena Saboia

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