Homem dos Casinos, de visão larga e futuro na mão, Carlos Campos, agora no Casino da Madeira, é a personalidade que destacamos. A troca de palavras fluiu de forma natural e traduz-se aqui, em letras, as ideias e o saber que enchem de oportunidade o momento.

A entrevista, conduzida por António Jorge Lé, já a seguir.

Carlos Campos, qual a leitura que faz no crescente movimento do jogo digital?

O crescente movimento do jogo online deve-se àquilo que eu apelido de efeito champagne, à associação de grandes marcas de casinos físicos se terem focado neste modelo de negócio que, por sua vez, veio dar a credibilidade e responsabilidade que até então era inexistente no jogo online não regulamentado.

Os casinos tradicionais vão ficar para trás ou vão ter que reinventar-se?

Os casinos tradicionais têm que se reinventar diariamente e não apenas por força do jogo online, já se reinventaram com os jogos ditos sociais como por exemplo a “raspadinha“, jogo clandestino, mudança de condições dos hábitos dos clientes (proibição de fumo em grande parte das áreas dos casinos) e a constante evolução tecnológica das novas plataformas de slot machines e mesas de jogo que são disponibilizadas a uma velocidade estonteante por parte dos fabricantes.

Os Impostos sufocam presentemente a atividade do jogo de fortuna ou azar?

Em verdade os impostos sempre foram elevadíssimos em Portugal. Mesmo com a introdução de cada vez mais de jogos “sociais”, jogos online etc., conseguimos ter sempre os mesmos impostos e tributação.

Que tipo de jogador hoje temos hoje?

O jogador de hoje é um jogador muito mais exigente, mais consciente e mais casual. Os modelos atuais de casinos ao reinventarem-se tornaram os seus espaços destinados a massas, em contraponto com os elitismos do passado. O conceito de massificar estes espaços fez com que os casinos dessem mais durabilidade ao cliente como jogador, os casinos já não vivem, nem pretendem viver exclusivamente do jogo puro e duro, mas sim, de massas capazes de gerar receitas iguais ou superiores ao modelo passado e ultrapassado, nas diversas vertentes e modelos de negócios dos novos casinos, F&B, animação diária, shows de nível internacional, arte, jogo, etc.

Resumindo, o jogador atual procura cada vez mais um ponto de encontro que satisfaça as suas necessidades de momento e que o mesmo seja um espaço lúdico e cultural.

Como esteve à frente do Casino Gran Via de Madrid, que grandes diferenças aponta no espaço ibérico que abraça os dois países?

As diferenças são imensas e seria muito maçador estar a elencá-las. Assim, vou destacar em meu entender aquela que considero ser a diferença mais forte entre os dois países.

A grande diferença até a minha chegada em Agosto de 2013 a Madrid, era a inoperância e desprezo que os casinos em geral em Espanha depositavam no negócio das slot machines. As máquinas automáticas eram consideradas “a ovelha negra dos casinos“ eram o depósito dos maus colaboradores de outras áreas, eram uns cemitérios de máquinas atulhadas sem qualquer tipo de cuidado de layout, de segmentação do produto etc. Nada era pensado em prol das máquinas automáticas. Tudo isso ao contrário do modelo aplicado nos casinos portugueses, onde a partir do início dos anos 90 as concessionárias de então, conhecedoras da gestão de casinos, começaram a dar a devida importância ao negócio das máquinas automáticas. Em Espanha (com a exceção da comunidade da Catalunha, em particular o Casino de Barcelona) a verdadeira razão era, e ainda é, em alguns Grupos que gerem Casinos em Espanha, que eles mesmos não estavam e/ou não estão interessados em canibalizar o negócio das Arcades (salões de Jogo) que são de sua propriedade, e donde advém parte da sustentabilidade das suas empresas.

No Casino Gran Via em Madrid, que até à data está considerado como um dos melhores casinos da Europa, essa tarefa para mim não foi muito dificultada pela minha antiga administração, pois os mesmos acreditaram nas minhas competências e mais importante: a demonstração dos resultados líquidos em confronto com os jogos bancados, onde a parte tributária em Espanha (para os jogos bancados) é avultada, e nas Máquinas Automáticas é quase insignificante.

A grande diferença é este paradigma que ainda persiste em algumas organizações em Espanha ao contrário do mercado português.

Quem é Carlos Campos?

Carlos Campos é mais um anónimo cidadão português que trabalha desde os 14 anos, que teve que estudar no regime noturno e tirar cursos complementares já em adulto, que faz parte das Direções de Casinos desde 2001, que no seu currículo tem o contributo na feitura de dois dos melhores Casinos da Europa, o Casino Gran Via em Madrid e o Casino Lisboa, e que ainda trabalhou nos Casinos da Póvoa de Varzim e Estoril, sendo agora Diretor-Geral do Casino da Madeira, mais precisamente desde Abril de 2017.

(Entrevista de António Jorge Lé)

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