Diz Rita Guerra

 

“Ando à procura sempre de coisas novas”

 

Rita Guerra é uma cantora de referência em Portugal. O seu percurso tem uma marca de qualidade e o trajecto eleva-se pela diversidade de estilos. Bonita, detentora de uma voz singular, Rita Guerra conversou com António Jorge Lé, e desse diálogo saíram três esclarecedoras respostas.

É só ler.

 

Que tipo de experiências lhe mereceram os grandes shows do Estoril?

Os grandes shows exibidos no Casino Estoril ao longo do tempo foram-me dando outra responsabilidade, pois eu não estava nunca sozinha em palco. Tinha de contracenar com outras pessoas, obedecer a espaços por causa da luz previamente programada e por causa de quem se movia à minha volta.

Estar num espectáculo cheio de pessoas, bailarinos, figurantes, animais até, e objectos enormes em cenários que se moviam de cena para cena e por vezes durante a cena, foi muito importante para mim, que estava habituada a estar sozinha, com as mãos ocupadas no teclado do piano e sem sair do mesmo sítio.

Como se pode calcular, é uma mudança radical que me obrigou a rapidamente vencer o meu receio de atrapalhar o ballet e comprometer uma coreografia, ou o receio de estar na frente do enorme palco como estrela e não mais como aquela figura meio desvanecida num canto do palco, como uma luz quase inexistente e com o volume do que cantava e tocava muito baixo, para não incomodar as conversas de quem jantava.

Foi um amadurecimento à força e muito bem-vindo, pois fez-me fortalecer muito e transformou a minha forma de estar no palco e a minha forma de cantar. Agora sem o meu piano.

Teve sim, um contra: deixei de poder escolher e variar as canções que cantava naquele canto do palco para ter de cantar todos os dias a mesma coisa, sem variar nem notas, nem movimentos no palco. E chegámos a ter um espectáculo em cartaz durante 3 anos e meio!…

Mas não é uma queixa, é a constatação de uma realidade diferente. Afinal, foi uma escolha minha e ainda bem que por ali passei.

Considera-se uma cantora de casinos?

Não me considero de todo uma cantora de casinos. O facto de ter estado muito tempo ligada a um, só por si, não me faz uma cantora de casinos.

Passo a explicar: durante esses anos fui fazendo outro tipo de trabalhos cá fora. Gravei vários discos, fiz espectáculos em meu nome e não só. Participei em festivais, fiz parcerias em palco e em disco com os mais variados colegas de áreas diferentes da música (de João Braga aos Ovelha Negra, LX-90, Beto, etc.), para além de ter desenvolvido uma relação longa e assídua com a Disney e com outras empresas de cinema animado.

Ou seja, participei em muitos dos espectáculos exibidos no Casino Estoril mas vou mais além disso.

Nos primeiros anos acompanhava-me ao piano e cantava durante o jantar, antes do show começar. Cantava o que queria durante meia hora, os temas eram escolha minha.

Novos projectos da Rita Guerra?

Novos projectos: sempre coisas novas, pessoas novas, novas abordagens musicais e vocais. Não fugindo à minha essência ou ao que o público mais está habituado a ouvir-me fazer, é chegada a altura de progredir, e para isso é preciso tempo e calma, algo que não irei descurar.

Enquanto o novo trabalho se vai construindo, vou estando um pouco por todo o nosso país a apresentar um concerto que desejo fazer há muitos anos e que tudo tem a ver com uma parte densa da muita música que venho ouvindo ao longo do tempo: os blues, o soul e o r&b.

(Entrevista de António Jorge Lé)

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