O CAFÉ CHINÊS DA PÓVOA DE VARZIM

A Independência, 12 de Abril de 1883:

«Acha-se há dias, nesta villa, o sr. Carlos Evaristo Félix da Costa que, segundo nos informam, vem dar princípio aos trabalhos de um magnífico café…»

A Independência, 8 de Maio de 1886:

«No magnífico edifício do sr. Carlos Evaristo, onde, na quadra balnear, tem de estabelecer-se este café, estão a terminar as obras, indo em breve principiar já os adornos de que o mesmo café se comporá. Todos aqueles atavios são de surprehendente effeito, e pode-se com franqueza asseverar que o café Chinez será um primor e fará a admiração geral».

A Estrella Povoense, 22 de Agosto de 1886:

«Na quinta-feira passada abriu este magestoso café. É magnífica a sua decoração, soberbos os seus bilhares, profusa a sua quantidade de lumes e luxuoso o seu serviço, enfim, todo o seu aspecto é deslumbrante. Confessamos e connosco todos os forasteiros que se encontram n’esta villa que, não há em Portugal outro café melhor que este».

A mesma Estrella Povoense, em 12 de Setembro de 1886, dizia o seguinte sobre o jogo na Póvoa:

«Principiam bem cedo, a manifestar-se as terríveis consequências da culposa tolerância do jogo n’esta formosa e concorrida praia…

Joga-se aqui descaradamente, escandalosamente, em todos os cafés sumptuosos e em todas as espeluncas reles, sem que até hoje se haja tomado uma só medida, praticado um só acto, para reprimir os arrogantes excessos do jogo, que, constituindo, como constitue um crime público, faz-se da lei penal lettra morta…»

Na sua edição de 10 de Outubro de 1886, o mesmo jornal torna pública uma Participação ao sr. dr. Delegado do Procurador Regio, onde se refere que se jogava nos cafés Universal, Chinez, Luso Brazileiro e David, constituindo estes factos um crime previsto e punido pelos artigos 264º, 265º, 266º, 267º e seguintes do Código Penal (publicado curiosamente em 20.09.1886 ).

O jornal “O Conimbricense”, de 11 de Outubro de 1890, referindo-se a notícia publicada no Commercio do Porto, relata uma das várias diligências policiais efectuadas na Póvoa de Varzim contra as casas da batota, tendo neste caso “sido assaltados em primeiro logar os cafés David e Chinez”.

Estas acções policiais eram realizadas com alguma frequência mas com efeitos práticos quase nulos, porque a batota sempre continuava nos dias seguintes ou até no próprio dia !

Com o passar dos anos o Café Chinês foi cada vez mais justificando os seus créditos de café elegante e distinto.

Tão distinto que chegou a Casino! E tão importante que nele veio a funcionar o próprio jogo concessionado (1929-1933).

Lê-se no jornal poveiro “28 de Maio”, de 12 de Maio de 1928:

«Devido à iniciativa do Sr. José Costa, o Chinez é atualmente um pequeno Casino; contudo essa iniciativa foi asperamente censurada por muitos poveiros, que desejavam o Chinez sujeito aos anacronismos do…Celeste Império…»

“O jogo legal” foi adjudicado à Empresa de Turismo Praia da Póvoa de Varzim, S.A.R.L. em 14 de Setembro de 1928.

Depois de funcionar durante alguns meses no salão da antiga Assembleia Povoense, o jogo concessionado, de 1929 a 1933 efectuou-se nos salões do Café Chinês, depois cinema Póvoa-Cine, entretanto centro comercial “Super Ok“, no Largo Dr. David Alves. Só em 10 de Junho de 1934 foi solenemente inaugurado o Monumental Casino da Póvoa de Varzim.

Numa troca de galhardetes entre dois jornalistas, diz o do jornal “28 de Maio” ao seu colega do “Diário de Coimbra”, em 15 de Setembro de 1928:

«Como vê o prezado colega de Coimbra, não exageramos a importância do jogo de azar. Com jogo, embora ilegal, se engrandeceu a Póvoa. Com jogo legal vai progredir mais celeremente e melhor».

Pode ler-se no “Comércio da Póvoa de Varzim”, de 25 de Setembro de 1936: «Quando o Chinez abriu as portas ao público as suas portas que até ali haviam estado vedadas por umas grades de junco, o público sentiu como que uma pedrada nos olhos. Um luxo verdadeiramente oriental, dizia-se. Não há igual em toda a península !

Talqualmente o que agora se ouve dizer do nosso “Monumental Casino”.

O Café Chinês foi demolido em princípios de 1938.

Paz à sua alma!...

2 comentários

  1. Muito obrigada põr explorarem este tempo! Giraça a elé descobri que o meu trisavô era. Alberto Evaristo Félix da Costa j,senti do o meu bisavô o filho Alberto Evaristo Félix da Costa, sua filho Adélia Evaristo Félix da Costa Monteiro. Contudo, nada sei sobre descendência Carlos Evaristo Félix da Costa Junior………

  2. Boa tarde! Obrigado pelo seu comentário. É de facto muito interessante fazer um trabalho de pesquisa sobre este assunto. Tentaremos ajudar no que pudermos.

    Com os melhores cumprimentos.

    O Jogo em Portugal

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