As Damas do Jogo
Não podia deixar de começar por mencionar a primeira pessoa que me inseriu neste mundo de trabalho e que tive o prazer de conhecer e com quem tive o prazer de trabalhar, e que tão carinhosamente me tratava por “terço”, devido ao meu nome, Rosário, e à minha estatura. Senhor Manuel Neto, ex-diretor do serviço de jogos do casino da Figueira da Foz, um muito obrigada por ser a pessoa que é. Foi quem me incutiu o gosto pela entrega ao trabalho, de ser profissional e cumpridora dos compromissos que o mesmo acarreta.
Iniciei as minhas funções como operadora de CRD (Centro de Recolha de Dados) no Casino da Figueira da Foz, no ano de 2000, e posteriormente, em 2006, rumei para o Casino Lisboa.
As minhas funções correspondem ao controlo e gestão dos dados das slots machines.
O trabalho do CRD é feito em conjunto com a inspecção de jogos e com as chefias da sala de máquinas. Estas funções passam por garantir o bom funcionamento das máquinas de jogo, pela verificação de créditos, acertos dos contadores, verificação da ligação online com o sistema informático, contabilidade de jogo, processamento de prémios e toda a gestão do parque de máquinas.
O jogo em Portugal tem vindo a sofrer algumas alterações no decorrer destes anos. Houve algumas alterações legais, que no meu ponto de vista se adequam com realidade e foram bem elaboradas, mas por outro lado algumas delas estão incompletas. Houve também alterações sociais. Se as crises no passado, e por incrível que pareça, traziam mais jogo aos casinos, isso não se verificou nesta mais recente crise. Houve um decréscimo nas receitas. O jogo online, creio eu, também contribuiu para este fenómeno, se bem que na minha opinião, jogar num casino físico, com toda a sua atmosfera, traz ao jogador outra perspectiva, outra experiência e outra vivência.
Adoro o que faço. Tenho prazer em pertencer a este mundo. Ser mulher neste meio, não é difícil por si só, pois nunca me senti excluída ou inferiorizada por ser mulher, mas em conjunto com a vida pessoal as coisas são diferentes entre homens e mulheres. Trabalhar por turnos, fins-de-semana e feriados, foge completamente aos padrões ditos normais para os quais a sociedade e a família estão formatadas. Um bom exemplo disso são os horários dos nossos filhos e maridos. Por muito que o nosso companheiro partilhe as tarefas, a mulher tem sempre o papel de mãe, e isso é insubstituível. O sentimento de culpa em sair de casa nas horas em que a família chega, é um sentimento pesado e as mulheres são mais sensíveis a isso. Custa, e se custa! Na época natalícia então nem se fala! Custa a todos, mas para as mulheres, é mais duro. Não obstante todas as contrariedades que este trabalho traz para a vida pessoal, jamais equacionei desistir dele.
Adoro o que faço!
Vou gerindo com mais ou menos dificuldade as minhas duas vidas, a pessoal e a profissional. Sinto-me muito realizada em ambas, e por isso, comecei a viagem de ser mãe novamente. E cá vamos nós para mais uma aventura!
Dedico este texto a todas as minhas colegas e em especial à minha família.
Feliz Natal para todos!