Um famoso jogador, que normalmente arriscava 1.000 contos por jogada, um belo dia, e enquanto se encontrava a jogar na Banca Francesa, vê abeirar-se dele, um “amigo” que lhe pede cinco contos emprestados.
A sua primeira reação foi a de não emprestar. Porém o “amigo” insistiu, insistiu, dizendo-lhe:
– Ó Pá, empresta lá! É só para meter um “carrinho” (irregularidade praticada pelo jogador, marcando rapidamente num momento em que já se apercebeu de qual, muito provavelmente, poderá vir a ser a chance premiada; colocação da ficha em situação de aposta, já fora de tempo).
Já te devolvo o dinheiro. É garantido!
Perante tanta insistência, o famoso jogador lá resolveu emprestar os cinco contos ao “amigo”.
Era por pouco tempo, e além disso, ambos estavam a jogar na mesma mesa, o que dava para controlar o empréstimo. O que tinha pedido o empréstimo, jogador experiente e astuto, foi colocar-se na mesa da banca francesa numa posição que lhe permitia observar com facilidade e rapidez a queda dos dados na “arena” (zona de lançamento dos dados, delimitada pelo “chouriço” ou cercadura).
A determinada altura, um dos três dados imobiliza-se mais cedo do que os outros, com a pinta do 1 (Ás) virada para cima. Num movimento ultra rápido, o astuto jogador, joga a ficha na chance do “pequeno” (soma das pintas igual a 5, 6, ou 7), crente no sucesso do seu “carrinho”.
Só que, e para seu grande desespero, o “cavalinho” (profissional de banca, “deitador” de dados na banca francesa), anuncia, porque o azar assim o ditou, não o “pequeno”, mas “Ases” (soma das pintas das faces superiores dos 3 dados, que perfazem um total de 3).
Perdiam assim todos os jogadores e também o que tinha emprestado o dinheiro. Inconformado e irritado, porque mais do que o próprio dinheiro da sua aposta que acabara de perder, e que era muito, o empréstimo efetuado ao amigo, também se evaporara, em resultado de um “carrinho” mal sucedido.
O famoso jogador não se conteve, e num gesto brusco de desespero e revolta, bateu violentamente com uma raquete que tinha na mão, em cima da mesa de jogo. E foi de tal modo violenta a pancada, que deslocou a cabeça da raquete, o que fez com que houvesse algo no ar a sobrevoar todas as cabeças dos presentes.
Todos, profissionais, jogadores e mirones, dirigiram os seus olhares e atenção para o ar, tentando ver e perceber o que se passava.
E é nesse curtíssimo espaço de tempo, num apertado segundo, que o jogador do “carrinho” se aproveita (por ninguém estar naquele momento a reparar na mesa de pano verde), num gesto rápido, para retirar a ficha perdedora, de cinco contos.
No entretanto, e enquanto o pagador procedia à recolha das fichas perdedoras (todas, exceto as apostadas na chance dos Ases), o jogador que tinha feito o empréstimo e perdido mil contos, repara que a ficha de cinco contos que emprestara ao amigo, sem se perceber por que artes mágicas, desaparecera da banca, antes da mencionada recolha pelo pagador, das fichas perdedoras.
O que lhe provocou uma agradável surpresa e até euforia. Ria-se a bom rir. Ria-se perdidamente, e no final fez o seguinte comentário:
– Já jogo há muitos anos e já vi muitas coisas no jogo e nas mesas de jogo, mas o que nunca tinha podido observar como acabou de acontecer, foi um “carrinho” na banca francesa a fazer marcha atrás”!…
(O Jogo em Portugal)