Armando Gama e Bárbara                                          

O menino que se fez músico

Ao fundo, uma guitarra. Há várias. O cão Apolo… a dormir, e uma sala com um teclado onde marido e mulher conversam.

Bárbara Barbosa, esposa de Armando Gama, interroga-o. “Olha, imaginavas-te nesta profissão?” Armando, que acabara há pouco de compor mais uma canção, não a deixa sem resposta: “em criança nunca pensei nisso. Apenas tocava harmónica e adorava ouvir a música”. Ela insiste: “para além da fama e da projecção nacional que a Balada te trouxe, que mais consideras ter sido muito importante?” Diz logo: “conhecer Portugal e os portugueses, dentro e fora”. Ela interrompe: “mas continuas a cantá-la com a mesma emoção?”

 – Sempre! Diz Armando. “Umas vezes ainda mais! Depende do público”.

Armando Gama, pianista, compositor e nome de plano superior da canção nacional, afirma que fez sempre a música que queria, mas por vezes procurou ir ao encontro do que o público gostava e não era o que mais queria fazer. Os artistas também pagam contas…

Com tantos anos de carreira, Bárbara pergunta-lhe com carinho (passando-lhe a mão pelo cabelo): “o mundo artístico já te decepcionou?”

Resposta pronta de Gama: “Parte dele sim! Não houve muitas traições, algumas desilusões… Mas valeu a pena!”

Suave e meiga como é, Bárbara Barbosa vai insistindo com questões que por vezes poucos põem aos artistas: “com toda a crise de que se fala e com a correria de quase todos os músicos seguirem os ritmos que estão na moda a nível internacional, nunca te sentiste tentado a segui-los na busca de um novo êxito ou só queres mesmo fazer a música que consideras de qualidade e com a qual se identificas?”

Armando: “houve uma altura onde apostei na música muito comercial porque queria chegar ao grande público mesmo!”

 – Olha, amor: e se pudesses falar com o menino que foste e que pediu como brinquedo uma harmónica, que conselho lhe darias?

Com o ar tranquilo que lhe é peculiar, Armando Gama responde desta maneira: “essa foi a pergunta mais comovente que me fizeram até hoje! Mas diria algo assim… tão pequenino, a tocar com essa intuição se calhar… és músico. Mas tens de trabalhar e estudar música”.

A noite foi-se abatendo em casa. O crepúsculo entrava na sala, o pequeno Apolo mantinha-se quieto. É quase hora de jantar e só há tempo para rematar a conversa. “Com tantos talentos novos e bons a aparecerem diariamente e tendo a noção do pouco espaço cultural que há para os abranger a todos, o que lhes dirias?

Gama não lhe dá tempo para terminar: “lutem sempre. Não desistindo, as coisas acontecem. (Se forem bons, claro!)…

E com um beijo acabou esta conversa entre um simpático casal, onde o elemento feminino é uma talentosa mulher da literatura e artes… e o masculino é músico dos casinos, cantor e compositor de Portugal.

A.Almeida

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